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Lançamento do Atlas do Agronegócio promove debate sobre empresas e alimentos

A concentração do mercado de produção dos alimentos e os seus impactos na população foram os principais assuntos debatidos no evento de lançamento do “Atlas do Agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos”, realizado pela Fundação Heinrich Böll Brasil​ e Fundação/Fundación Rosa Luxemburgo Brasil & Cono Sur na última terça-feira (4). A discussão contou com a presença de Bela Gil (culinarista e apresentadora), Denis Monteiro (Articulação Nacional de Agroecologia) e Maureen Santos (Fundação Heinrich Böll), além da mediação de Gregório Duvivier.

Evento de lançamento da publicação, com a presença de Maureen Santos, Denis Monteiro, Bela Gil e Gregório Duvivier | Foto: Reprodução / Brasil de Fato

O documento traz informações sobre o cenário atual da produção dos alimentos no Brasil, abordando temas sobre agrotóxicos, conflitos no campo, agronegócio, qualidade de alimento, condições de trabalho e agroecologia. O pesquisador e educador popular Pedro D’Andrea, integrante do Instituto Pacs, também esteve presente no debate e listou alguns pontos pontos relevantes levantados na discussão:

Monopólio no mercado de produção de alimentos 

Como a concentração do mercado de produção dos alimentos foi abordado e quais são as principais consequências disso atualmente? 

“O material traz essa dimensão que é fundamental. Acredito que o grande ganho é o caráter da linguagem que é utilizada no material, tornando esse tema mais acessível. Muitos infográficos, mapas, tabelas, o que permite que essa denúncia alcance uma escala mais ampliada. É fundamental que as grandes multinacionais do Agronegócio sejam desmascaradas, que elas sejam identificadas e publicizadas, pois chegamos em um momento crítico da nossa longa história com a produção do alimento e seu consumo – que existe a mais de 20.000 anos. Nunca estivemos tão distante de quem produz e do que comemos na história da humanidade. Apontar estes monopólios, essa concentração, a péssima qualidade dos alimentos processados, a violência que isso gera no campo brasileiro, os impactos que essa cadeia gera na vida de todas e todos é muito importante. Ao mesmo tempo, a publicação mostra esse grande mercado global de terras, de água e de alimento, mostrando que o que envolve esse modelo não é a preocupação com a alimentação, mas sim a necessidade de concentração e geração contínua de lucro.”

Agronegócio e seus impactos 

Quais são os maiores impactos trazidos pelo modelo de agronegócio? O que as falas dos presentes na discussão puderam trazer de novo sobre o cenário atual desse tema? 

“Os impactos são estruturais. Vão desde a escala do corpo a uma escala mais ampliada. As falas tocaram no impacto dos agrotóxicos e transgênicos à saúde; ao papel do agronegócio como principal ator dos conflitos e assassinatos no campo; a concentração de terra, que provoca a expulsão de homens e mulheres os colocando na condição de sem terra; a concentração e o controle do mercado de alimentos e a dificuldade que isso gera na comercialização dos produtos da agricultura familiar; a superexploração da água e o impacto que isso gera para populações ribeirinhas, tradicionais, camponesas, entre outros.”

Agroecologia: uma alternativa ao modelo atual 

Quais foram as alternativas propostas? 

“A Agroecologia é a única alternativa viável e possível ao modelo do Agronegócio. Ela é algo concreto e que se materializa nos territórios de vida antes mesmo da construção desse modelo predatório e capitalista de produção alimentar, ou seja, antes da construção de um modelo agroindustrial – que se materializa com a Revolução Verde na segunda metade do século XX – os saberes e fazeres tradicionais traziam as dimensões do que hoje a gente chama e reconhece como Agroecologia. Há uma ruptura material e simbólica com a introdução violenta e vertical de um modelo que não só produz o alimento de forma diferente, mas coloniza as diversas formas populares de compreensão desse processo, da relação com a terra, com a água, com as florestas, com a saúde e com o alimento. Apontar a Agroecologia como alternativa concreta é, ao mesmo tempo, dizer que a modernidade não é mais capaz de apresentar soluções para os problemas que ela mesmo criou. É fundamental que haja o reconhecimento de que a resolução para a questão do alimento e da sua produção está no saber ancestral e popular, pois é justamente ele que segue produzindo o que comemos. A Agroecologia aponta para outra relação com a saúde, no protagonismo feminino, em uma outra relação com o alimento e seu total aproveitamento, assim como a necessidade de se pensar na diversidade dos alimentos que compõem os nossos pratos no dia a dia, na necessidade da aproximação de quem planta com quem come, a necessidade da realização da Reforma Agrária – que nunca aconteceu no país, para a compreensão de que a natureza não é uma mercadoria, um recurso, mas sim um bem comum e parte integrante dos elementos que juntos garantem as condições básicas de reprodução da vida. Apostar na agroecologia é lutar pela construção de um outro modelo de desenvolvimento que passa longe do agronegócio e de grandes projetos de desenvolvimento.”

 

O Atlas do Agronegócio está disponível para download através do link: https://br.boell.org/sites/default/files/atlas_agro_final_web_03-09_1.pdf