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Marcos Arruda recebe Medalha Pedro Ernesto aos 80 anos
Foto: Instituto Pacs

No dia 4 de março de 2021, Marcos Arruda, fundador e presidente do Instituto Pacs completou 80 anos de vida, uma caminhada marcada por muita luta, força e ensinamentos. Nascido no Brasil, Marcos é geólogo, economista, educador popular, escritor, poeta, pai, amigo e referência no debate de direitos humanos, educação e democracia. Foi perseguido, preso, torturado e exilado durante as ditaduras empresariais-militares por recusar se calar ao ver a injustiça e silenciamento diante de seus olhos.

Em 1981, Marcos participou da fundação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e, em 1986, decidiu criar o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), que hoje conta com 34 anos de trajetória. Na educação popular, é inspirado em Paulo Freire, com quem já trabalhou, e acumula dezenas de livros, cartilhas, artigos, poesias e histórias.

Para comemorar a data, o Pacs organizou no dia 12 deste mês uma live no Youtube em parceria com o mandato de Tarcísio Motta, com o objetivo de não só celebrar o aniversário e toda a história de Marcos, mas também realizar a cerimônia de entrega da Medalha Pedro Ernesto, principal homenagem que o Rio de Janeiro presta a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional.

O encontro virtual foi conduzido por Sandra Quintela, economista, educadora popular, feminista, integrante da Coordenação da Rede Jubileu Sul e Vice Presidenta do Pacs, e Aline Lima, psicóloga, educadora popular e coordenadora do Instituto. Amigos e familiares de Marcos Arruda também prestaram suas homenagens com vídeos, fotos, poemas, música e muito amor.

No primeiro bloco, em que a pauta principal foi a luta pela democracia, José Drumond Saraiva, membro da Assembleia de Sócios(as) do Pacs, contou um pouco da sua trajetória com Marcos: “Eu conheci o Marcos pessoalmente em 1987. Eu era um militante anti-armamentista e eu fui levado por um amigo para fazer esse trabalho sobre essas questões no Pacs. Nós tínhamos vivido na década de 70 e nos primeiros anos da década de 80 ditaduras terríveis nos países do Cone Sul e, naquele momento, vivíamos a era do ultraneoliberalismo de Margaret Thatcher na Europa. Nós sempre acreditamos que o neoliberalismo é um inimigo da vida, inimigo da solidariedade, é um inimigo, enfim, da maioria das populações desassistidas nos países da América Latina”.

Débora Nunes, professora da Universidade Estadual da Bahia e fundadora da Escola de Sustentabilidade Integral; Malena de Montis, educadora, feminista e socióloga; e Maria Denise Leal, advogada de direitos humanos e educadora popular participaram do segundo bloco para falar sobre como a educação é ferramenta para a liberdade.

“Eu conheci Marcos em uma entrevista sobre a economia solidária no Brasil e me encantei com esse grande mestre e com esse professor que viveu o que diz, que se comporta como tudo que ele prega, com humildade, gentileza e amorosidade. Marcos é representante dssa economia do amor que ele criou como conceito, desenvolveu e pregou pelo mundo em tantas línguas”, contou Débora.

Assim como ela, Maria Denise também falou sobre a importância de Marcos para a sua vida e, principalmente, para os camponeses na luta contra as cooperativas no Maranhão pós-ditadura: “Eu conheci o Marcos em 1979, na Suíça, durante os anos que fomos obrigados a sair do Brasil por imposição da Ditadura Militar. Quando nós retornamos para o país, nós fundamos em Pernambuco e em vários estados o Centru Maranhão (Centro de Educação do Trabalhador Rural) e foi aí que Marcos Arruda se mostrou importante nas nossas vidas, porque ele contribuiu decisivamente com as questões que lutávamos naquela época com as cooperativas. Ele veio ao Maranhão diversas vezes, sem ganhar nenhum tostão da nossa parte. O que ele fala nos livros, ele é na vida. Foi um verdadeiro professor, que aprendia e, ao mesmo tempo, ensinava sobre economia solidária para os camponeses e também sobre educação como perspectiva integral da formação do ser humano. Ele é uma dessas pessoas que a gente tem a honra de sermos companheiros, irmãos e amigos”.

Pablo Arruda, militante, musicista e filho de Marcos, emocionou a todos com o seu depoimento para o pai: “É indescritível a honra que me aquece o coração por ser seu filho, não é a toa que me tornei músico, toco e componho pra expressar o grito por um mundo justo e amoroso. Com o meu pai aprendi a ouvir e a fazer música. Não a teoria ou o instrumento, mas a verdadeira magia que acontece graças a dedicação de corpo e alma e uma ou um artista se comunicando com o divino, assim se tornando um canal de amor que expande e amplifica o amor em cada um e cada uma. Meu pai é um dos maiores corações que esse planeta já recebeu”.

Foto: Instituto Pacs

No terceiro bloco, Kathy Swart, estadunidense, companheira de Marcos e lutadora em denunciar os goldes de estado na América Latina; Miguel Borba de Sá, professor de Relações Internacionais, membro da Rede Jubileu Sul e do Conselho Político do Instituto Pacs; James Green, professor de História do Brasil na Brown University e CO-Coordenador da Rede nos Estados Unidos pela Democracia no Brasil; e Rosilene Wansetto, militante, educadora popular e integrante da Secretaria Executiva da Rede Jubileu Sul Brasil se reuniram para falar sobre o tema “a luta é intercional”.

“Quando li o livro “Esquecer? Nunca mais”, escrito pela mãe de Marcos, fiquei arrasada. Quando li o epílogo, escrito por ele, senti como se já o conhecesse. Eu queria conhecer essa linda alma. Sua história comoveu-me tanto que escrevi um poema, e um anos depois, o enviei. No ano seguinte, fiz uma viagem com amigos e, felizmente, o meu avião passou pelo Rio. Marquei um econtro com Marcos, só queria apertar a mão do meu herói, mas encontrei meu parceiro de vida”, relembrou Kathy durante o momento.

Ao final do encontro virtual, Chico Alencar e Tarcísio Motta também prestaram suas homenagens à Marcos: “Marcos, você nesses seus 80, caminho da eternidade, só espalha benefícios, só sabe que a vida é muito mais do que se vê, muito mais do que nossos passos pisam, muito mais do que está aparente. É o transcendente e você sabe nos comunicar isso muito bem. Você dignifica a medalha Pedro Ernesto e, muito mais do que isso, os nossos mandatos, e mais ainda, a humanidade inteira”, disse Chico.

“Eu só tenho a agradecer hoje, Marcos. Pela aula que eu tive ao longo dessa live, do meu mandato poder ser instrumento dessa homenagem, que é pequena diante da tua grandeza. Que é pequena diante do teu significado para tantos de nós. Quando a gente, enquanto mandato, resolve homenagear alguém, é porque a gente sabe que a memória das lutas e a memória dos lutadores é algo que nos fortalece, que nos dá esperança para continuar. Que bom poder está fazendo essa homenagem aqui, que é coletiva, que vem de um anseio dos movimentos, não é um desejo individual dos nossos mandatos. Paulo Freire dizia: “Eu me considero educador, acima de tudo, porque tenho amor”, e acho que é com muito amor que a cidade do Rio de Janeiro, através do meu mandato e do Chico, e de outros mandatos de esquerda que votaram, te oferece essa medalha que o seu filho, Pablo Arruda, vai colocar em você agora”, encerra Tarcísio Motta, oficializando a entrega da Medalha Pedro Ernesto durante a live.

Foto: Instituto Pacs