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Salvador tem primeira edição do Curso “Mulheres e Economia”

Pela primeira vez em 15 anos, o curso – pelo qual já passaram cerca de 1.000 mulheres – aconteceu fora do Rio de Janeiro. FOTO: Yasmin Bitencourt

Entre 17 e 19 de maio, mulheres dos movimentos Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA); dos Sem Teto (MSTB); entre outros movimentos baianos, participaram do curso Mulheres e Economia. Criada pelo Instituto PACS em 2004, a iniciativa acontece a todo ano e se dedica historicamente à construção coletiva de conhecimento e práticas a partir de experiências de economia feminista. Com o mote “A economia é política e deve estar nas mãos das mulheres”, a formação aborda temas como trabalho, saúde, educação, acesso a políticas públicas, economia solidária, dívida pública, entre outros.

Pela primeira vez em 15 anos, o curso – pelo qual já passaram cerca de 1.000 mulheres – aconteceu fora do Rio de Janeiro. Na Bahia, a versão condensada da formação (que normalmente dura dois meses) contou ainda com a parceria do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), entidade que assessora movimentos sociais, entre eles o dos Sem Teto da Bahia (MSTB).

Como em outras edições – mas em especial nesta por se tratar de uma experiência fora do Rio -, o curso buscou articular e fortalecer iniciativas econômicas já existentes, além de estratégias locais conjuntas das mulheres, respeitando tanto o conhecimento das participantes quanto as tecnologias sociais que têm sido usadas na defesa do território, da moradia, da água e da alimentação saudável.

As mulheres levantaram atividades produtivas e serviços liderados por elas. FOTO: Yasmin Bitencourt

“É uma forma de juntar as mulheres para refletir sobre o papel delas dentro dessa sociedade machista e racista que nos desvaloriza no mercado de trabalho, em casa e fora de casa. Elas ficaram felizes de entender melhor o que é economia feminista, que elas, na real, já sabiam, já fazem”, conta a representante do MSTB, Rita de Cássia Ferreira dos Santos, que organizou a formação.

Durante os três dias de curso, as mulheres compartilharam experiências, sobretudo, a respeito de suas estratégias de luta por moradia e permanência em Salvador. Falaram sobre as tecnologias para o plantio na cidade, sobre a produção de medicamentos a partir das ervas e outros saberes ancestrais. Tudo parte de uma economia liderada por elas próprias e fortemente inspirada por tradições negras e indígenas, cuja presença pode ser sentida nas ocupações como as do MSTB e nas periferias da capital baiana.

As participantes compartilharam experiências, sobretudo, a respeito de suas estratégias de luta por moradia e permanência em Salvador

No último dia de atividades, as mulheres participaram de um intercâmbio na Ocupação Manoel Faustino, na Estrada do Derba, em Salvador. Lá elas conheceram ruas, casas e formas de habitar que combinam moradia e floresta. Após a caminhada foi feita uma conversa em roda relembrando e sistematizando os produtos e serviços levantados nos dias anteriores. Dali as participantes do curso seguiram para uma atividade prática: um mutirão de limpeza da horta comunitária local.

“Esperamos que uma formação como essa, junto aos movimentos, fortaleça essas mulheres pra que resistam aos impactos do modelo econômico atual e pra que possam formular propostas anti-capitalistas, a partir de suas realidades e considerando o que já trazem: a solidariedade e o modo de vida que respeita a diversidade e os bens comuns”, avaliou Catarina Lopes, integrante da equipe do CEAS.

A formação estimulou as participantes a, coletivamente, levantarem suas práticas produtivas de forma que elas pudessem visualizar, contabilizar e, principalmente, valorizar o próprio trabalho. O objetivo é criar assim mais possibilidades de fortalecimento de olhares feministas diante dos desafios diários destas mulheres, em sua maioria negras.

“Em tempos de criminalização dos Movimentos Sociais como os que estamos vivendo no país, o curso foi uma formação política imprescindível para nós que estamos na luta pelo território. O curso reuniu mulheres do MSTB e CETA para construir sonhos coletivos e fortalecer essas identidades ancestrais. É simbólico da luta do feminismo negro e para as mulheres da Bahia”, conclui Juliana da Silva dos Santos, do MSTB.

 

Confira os vídeos comemorativos dos 15 anos do curso Mulheres e Economia no canal do Instituto Pacs no Youtube:

Aline Lima: https://www.youtube.com/watch?v=hgTMy8u38_8

Leila Salles: https://www.youtube.com/watch?v=7Bp4YqY_ljY

Sandra Quintela: https://www.youtube.com/watch?v=hTTDEEh5YGs

Marina Ribeiro: https://www.youtube.com/watch?v=uFXtN-zB4Sk