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Atuação e impactos da siderúrgica Ternium Brasil são discutidos durante palestra para alunos do CEFET, em Itaguaí

Os impactos socioambientais da indústria siderúrgica na Zona Oeste do Rio de Janeiro foram tema de uma palestra que o Instituto Pacs participou no CEFET de Itaguaí, na última quarta-feira (23). A mesa fazia parte da Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão (SEPEX), destinada a alunos do curso técnico na área de mecânica industrial integrado ao ensino médio da instituição. A discussão contou ainda com a presença de integrantes do Coletivo Martha Trindade e do Ecomuseu de Santa Cruz.

A temática abordou os efeitos negativos da atuação da siderúrgica Ternium Brasil, antiga TKCSA, para a população e os territórios de Santa Cruz e Baía de Sepetiba – bem próximos à localização da escola. A educadora popular e coordenadora do Instituto Pacs, Marina Praça, apontou a importância de se falar sobre os efeitos da cadeia minero-siderúrgica. “É um megaprojeto marcado por uma lógica patriarcal e racista. Esse modelo de desenvolvimento atua em uma perspectiva transnacional para territórios do sul global na busca por um crescimento econômico a qualquer custo”, afirma.

Palestra sobre os impactos socioambientais da atuação da sideúrgica Ternium Brasil, antiga TKCSA | Foto: Instituto Pacs

O caso da indústria, acompanhado pelo Instituto Pacs há mais de 13 anos, traz uma trajetória de danos territoriais e violações de direitos à região em que está inserida, impactando diretamente as formas de viver dos(as) moradores(as). Entre as denúncias, há fatos como o fenômeno da chuva de prata, doenças respiratórias e de pele, o uso exacerbado de água e a contaminação do meio ambiente, que afetou o trabalho de pescadores(as) e marisqueiras locais.

Um exemplo dessa realidade é o relato de Alana Assis, estudante do terceiro ano do CEFET-Itaguaí. “O meu avô mora perto da empresa. Um dia que eu fui visita-lo, vi que o céu estava brilhando. Quando passei a mão na folha de bananeira e vi um pó cinza, mas eu ainda não tinha consciência do que era”, conta. A jovem de 19 anos diz que observou ainda o impacto na vida de pescadores da região onde reside, em Itaguaí. “Meu tio era pescador e tirava uma boa renda com esse trabalho, mas com a contaminação da Baía, ele perdeu o sustento da sua família”, complementa.

Um dos objetivos do evento era fomentar o debate dentro da instituição, já que o ensino técnico em mecânica, integrado ao ensino médio, foi construído a partir de uma parceria público-privada com indústrias desse setor, como a Vale e a própria Ternium Brasil, que faz até distribuição de jornais produzidos pela empresa para os alunos. Para Renata Ruffino, professora de história, o intuito era justamente estimular os alunos a terem um pensamento mais crítico sobre as lógicas empresariais “A base teórica dessa modalidade de ensino é promover uma formação humana integral, por meio de uma proposta de educação profissional e tecnológica que associa ciência, trabalho, tecnologia e cultura, buscando a formação do profissional-cidadão crítico-reflexivo”, afirma.

Esse ponto também foi abordado durante a fala de Flávio Rocha, pesquisador e integrante do Coletivo Martha Trindade, formado por jovens de Santa Cruz. “Eles não devem ficar em um debate apenas tecnicista. É interessante eles entenderem o contexto ambiental, econômico e político que a empresa se insere, bem como entender a resistência”, complementa. Já Luna Ribeiro, professora de sociologia da instituição, aponta a importância do contato dos alunos com a relação entre o mundo do trabalho e a natureza local. “Nossa ideia não é desestimular os alunos a trabalharem na indústria local, pelo contrário, é que possam ir trabalhar nesses espaços com uma consciência sobre esse modelo de exploração dos recursos naturais”, explica.

Durante o encontro, os estudantes conheceram ainda o “Dragão de Aço”, um jogo de tabuleiro com uma metodologia voltada para crianças e adolescentes elaborado com base na pesquisa Quintais e Usinas, que traz um panorama das violações causadas pela produção de aço em âmbito nacional.