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Entrevistas

#MulheresTerritóriosdeLuta: Dayane Chaves e a resistência na Comunidade Quilombola remanescente dos Quilombos de Salvaterra

Por Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), publicado em 06/04/2021

Em mais uma entrevista da sequência com mulheres lutadoras da América Latina na campanha #MulheresTerritóriosdeLuta, trazemos hoje a conversa com Dayane Chaves Amador, da Comunidade Quilombola remanescente dos Quilombos de Salvaterra, Vila União, Campinas. O material foi produzido por Marina Praça e Ana Luisa Queiroz e editado por Karoline Kina.

Foto: Arquivo pessoal

PACS: O que é luta para você?

Dayane: Acho que luta são todos os enfrentamentos que a gente acaba encontrando todos os dias, e a forma que a gente enfrenta essas barreiras que são colocadas nas nossas vidas.

PACS: O que te movimenta?

Dayane: Sempre falo, assim, que eu sigo um exemplo da mamãe. Porque a minha mãe teve 12 filhos, e ela estudou até a quinta série do Ensino Fundamental. Da quinta série, ela fez um curso de técnico de enfermagem. E aí, desse curso, quando todo mundo disse para ela não se inscrever, não tentar um concurso público para trabalhar na Prefeitura, ela fez escondida do papai, porque ele também não permitia, e ela passou em terceiro lugar. Ela sempre foi um exemplo de luta, porque ter 12 filhos, ela teve filhos gêmeos, onde o papai nunca trocou uma fralda, nunca limpou. E, na época, não era a fralda descartável, era fralda de pano. E ter gêmeos pra usar fralda de pano, todo dia lavar, ter que trabalhar. Teve tempo na vida dela que ela passou seis, sete meses sem receber, indo todo dia trabalhar mesmo assim, e depois o papai não permitindo ela estudar e ela ia escondido dele. Quando ela começou a lutar, em prol do posto de saúde, para vir para comunidade, às vezes ela ia para o movimento, para evento e o papai fazia ela descer de dentro do ônibus, quando ele saía de casa ela subia no outro ônibus e ia. No decorrer da minha vida, assim, eu nunca vi ele bater nela, né? Eu não sei se ele bateu, quando nós éramos menores, que eu não lembro. Em compensação, a violência psicológica era forte. Mesmo assim, em nenhum momento ela desistiu. Minha mãe terminou o Ensino Médio depois de adulta, com quase 50 anos. E, para mim, chegar ao nível que a mamãe foi, apesar de hoje eu estar numa formação acadêmica, mas chegar ao nível de batalha que ela enfrentou, e chegar assim, do jeito que ela está. Porque a mamãe está valendo mais que eu, ela está bem mais bonita do que eu. Eu ainda não tenho nenhum filho, e ela teve 12, deu conta de criar todos. O papai não ficava em casa. A gente nunca teve uma ceia de Natal, desde criança, com panetone, com peru. Mas tínhamos uma ceia de Natal com bolo de macaxeira, com galinha de quintal, galinha caipira assada de forno, farofa. Ela fazia das coisas que tinha no quintal de casa, e todo Natal ela fazia uma ceia. E o papai não participava, porque ele ia para festa, mas ela fazia para gente. E a gente ficava esperando dar meia-noite para poder comer. A gente não teve brinquedo, mas a mamãe, dava o que ela podia. Às vezes, eu evito o conflito, que também é uma forma de resistência para mim. Dar um passo atrás, para a gente dar dois na frente também é uma forma de resistência. De vez em quando, eu tenho que abaixar a cabeça, para ali na frente eu ter que levantar. Então, são estratégias que a gente usa também.

PACS: Como você se entendeu mulher ao longo da sua trajetória? Você se vê nas mulheres do passado, na sua história?

Dayane: Eu sou um pouco crítica nessa questão, também hoje eu entendo que as relações de poder, relações que existiram no passado, são bem semelhantes às que acontecem hoje. No passado, existia violência sexual, a pedofilia, existiam várias coisas… Só que ficavam escondidas. As mulheres eram violentadas e se calavam, escondiam isso. As mesmas coisas que existem hoje, assim, ao meu entender, no mundo, existiam no passado. Mas, em compensação, hoje as pessoas falam. Hoje as pessoas comentam, discutem sobre isso. E eu não sei se eu já me entendi enquanto mulher, porque eu ainda não me descobri, quem eu sou na verdade, assim, no mundo, mas eu tenho alguns conceitos que eu sigo, que eu acho que é correto. Então, toda vez que eu achar que algo não concorda com a forma correta que deve ser, eu vou questionar.

PACS: Você se reconhece como uma mulher de luta?

Dayane: Todos os dias a gente tem batalhas, lutas a traçar… Então, eu acho que todas as vezes que a gente encontra meios de derrubar pessoas, por exemplo, o machismo, a homofobia, derrubar esses pensamentos… é um momento de luta.

PACS: No seu território você vive a realidade de algum megaprojeto, alguma coisa que impacta ele? E como você sente esses impactos no seu corpo, como mulher?

Dayane: Conforme o desenvolvimento, e eu digo um desenvolvimento entre aspas, porque não é um desenvolvimento… Para mim, desenvolvimento é algo que vem para melhorar a vida da gente. Mas aí, a rodovia PA é dentro da minha comunidade. Então… Vila União era uma comunidade que tinha pouca as casas. Hoje em dia, já não está mais assim. Se tu for andar na comunidade direto, que é na beira da rodovia, você vê a quantidade de comércio que tem… Uma casa, um comércio, uma casa, um comércio, uma casa, um comércio. Aí tem um posto de gasolina, tem duas distribuidoras de gás… E aí vai vindo um comércio atrás do outro. Esse fluxo que tem dentro da comunidade tem tornado a nossa vida mais perigosa.

Entre 2015 e 2016, foi construído um posto de gasolina na frente de casa, em cima da casa de umas antigas moradoras. Esse espaço era para ser um local de memória. Era para ser alguma coisa que ficasse como recordação da memória de quem era aquela mulher que morava ali, o que ela foi dentro da comunidade, uma pessoa que cuidava dos outros, que trabalhava com as plantas medicinais, assim como a mamãe. Era para ser. E aí construíram o posto de gasolina ali, não tem um vestígio de como que era a casa dela. Só está na memória da gente. Eu sempre falo porque, enquanto a gente não lembrar, a memória se apaga, ela deixa de existir. Se a gente não compartilha essa memória, essa lembrança se esquece… As pessoas se esquecem. E aí eu tirei uma foto, porque o dono do posto de gasolina mandou um dos funcionários dele pulverizar veneno para matar o capim que vai crescendo. O rapaz estava de short, camisa e com a bomba pulverizando veneno no capim. E as pessoas passando, as pessoas paravam no posto pra abastecer. gente mora lá na frente, e a gente é diretamente afetado. A nossa saúde é afetada.

PACS: A sua comunidade tem uma dinâmica comunitária?

Dayane: Pois é. Aí, o que acontece na comunidade? Por conta do grande fluxo de comércio, a comunidade começou a desenvolver rapidamente. Então, grande parte dos moradores que hoje estão na comunidade, não são pessoas daqui. São pessoas que vieram de fora, mas assim, a gente tem a Associação de Mães e Produtores e Remanescentes de Quilombos na comunidade, onde pessoas da minha família fazem parte, pessoas de outras famílias que também residem na comunidade fazem parte. Mas, tem gente que não é da comunidade, está aqui, e quer fazer parte da associação pelos benefícios do que o ser quilombola traz. Tem gente que, por exemplo, põe no talão de energia lá, de dono de comércio, que não é na comunidade, que não tem essa descendência, não carrega, porque ser quilombola não é só ter os traços. Tem todo um contexto histórico ancestral que a gente traz, e tem pessoas, como comerciantes, que consta no comprovante de residência deles como quilombola para pagar energia mais barato.

PACS: E o que era produzido lá?

Dayane: A gente trabalha com abacaxi, com mandioca. Só que varia. Porque, abacaxi, mandioca é o ano todo, né? Mas, na época do inverno — porque a gente tem duas estações: só inverno e verão — então, de janeiro a junho, inverno, de julho a dezembro, verão. Então, no verão a gente limpa a área, para plantar o abacaxi, maniva. Aí a gente apronta já no verão para, no começo do inverno, a gente tirar o produto. Na época da chuva, que é o inverno, a gente planta melancia, feijão, milho, maxixe, planta jerimum, várias outras coisas.

E agora, assim, a gente está começando a trabalhar com as hortas. De vez em quando, numas casas, a gente já percebe no quintal umas basquetinhas, com couve, cheiro verde, com hortelãzinho… Então, as pessoas começaram a produzir também nos seus quintais os seus próprios bens de consumo, né?

PACS: Como você vê o seu corpo? O que você carrega nele?

Dayane: Ah, eu acho que eu carrego muita coisa. Não só no físico, mas assim, no espírito. Eu acredito no espírito. Eu sempre converso, eu digo: “Eu não sei quem me protege, mas alguém me protege.” Não sei se são meus ancestrais, os orixás… Não sei se é Deus, mas de alguma forma o meu corpo espiritual tem proteção. E esse corpo espiritual ele acaba refletindo no meu corpo físico.

PACS: Você sente algum impacto no seu corpo?

Dayane: Ó, eu sinto toda essa influência de fora, eu sinto no corpo. A gente é carne, é sangue… Mas, assim, a gente tem essa relação com nosso espaço. As pessoas dizem que é muita terra para pouco índio, muita terra para pouco quilombola, mas a gente tem essa relação com o espaço, a gente tem essa relação com a terra.

Eu, por exemplo, corria para o mato todas as vezes que acontecia alguma coisa de ruim comigo, ou com a minha família, com qualquer um dos meus irmãos, eu corria para o mato e eu ficava no mato até eu me acalmar. Depois que eu me acalmava, voltava para casa. Então, quando eu estava assim com raiva, com ódio… De certa forma, estar ali me acalmava. Eu acho que, para nós, é muito mais do que só a terra, muito mais do que só as árvores. A gente se sente parte disso. E aí, quando vem a rodovia e corta o espaço que a gente vive, quando vem um fazendeiro e destrói o espaço que a gente está acostumado e monta lá o seu comércio, monta seu ponto de venda para enriquecer, ele está destruindo uma coisa que também faz parte da gente. Eu me sinto terra. Eu me sinto água. Eu me sinto mato, sabe? Então, eu me sinto parte disso. E não tem como a gente ver o nosso espaço, a mata que a gente estava acostumado a ver todos os dias, sendo destruída, sem a gente sentir que isso também vem destruindo o nosso corpo. Porque, pode não parecer, mas destrói quem a gente é.

PACS: E de onde vem a sua força no seu corpo?

Dayane: Eu não sei de onde vem. Tem momentos que parece que quando a gente está no fundo do poço, ele tem um subsolo, tem um porão, e assim, do nada surge: “E se a gente fizesse isso?” E aí, a gente vai, tenta fazer e acaba dando certo. Eu não sei, de fato, de onde vem, mas eu acho que no momento que a gente acalma, que o estresse passa, a solução aparece.

PACS: De onde vem o seu respiro? De onde você tira força para seguir?

Dayane: Eu sempre lembro de algumas pessoas que conheci no passado e que hoje eu também tive o prazer de escutar histórias de lutas, ler livros de pessoas que foram lutadores, que enfrentaram, e às vezes querendo ou não, do nada vem uma mensagem da nossa mente, daquilo que a gente leu. Por exemplo, tem o Zumbi dos Palmares, tem Dandara, tem um Ganga Zumba, Conceição Evaristo. São pessoas que são exemplos para gente. Zumbi dos Palmares, tão novo, mas assim, ele dava um passo atrás, para dar dois na frente. São estratégias de luta! Quando eu digo que a gente vai abaixar a cabeça agora, para que depois a gente levante, quando eu digo: “Não, eu vou evitar o conflito”, não é porque eu estou fugindo da briga, mas porque evitar o conflito é uma estratégia.

PACS: E o que te dá alegria?

Dayane: Eu sou muito diferente. Então, cada dia eu acordo com um humor diferente. Por isso que eu conheço muitas músicas, porque todos os dias eu acordo com uma música diferente na mente. Tem vezes que eu acordo com o Canto das Três Raças na mente, tem vezes que eu acordo com o Canto de Oxum na mente, tem vez que eu acordo com Cássia Eller na mente… E aí, tem vez que eu acordo com Pabllo Vittar. Eu não paro para escutar o som, eu paro para escutar a letra. E tem letras que são muito engraçadas e isso muda… Muda muito meu humor. Se eu estou estressada, quando não dá para ir para mata, eu escuto uma música. Aí eu digo: “Não, é essa música que eu tenho que escutar.” Sabe? Doralyce: “Nós somos mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores…” Então, essa música eu escuto quanto estou assim, puta da vida. Quando tentam me diminuir por conta da minha posição “mulher”, que eu não tenho capacidade, que eu não devo fazer isso, que eu não devo usar essa roupa, que eu não devo me vestir assim, que eu não devo falar palavrão, que eu não devo ir no bar beber! Quando o pessoal está falando assim: “Ah e tal, tu tá muito gorda, cuidado que tu vai explodir, não sei o quê e tal.” Eu escuto Doralyce: “Miss Beleza, Miss Beleza Universal…”. Porque, cara, a gente é mulher de todas as cores, de todas as idades… Independente de cor, de raça, de posição, de opção sexual, é dessa forma que eu vejo, sabe? É assim que eu acho que a vida funciona. E eu acho que deveria ser assim sempre.

PACS: Você acha que a própria luta pode ser um respiro?

Dayane: Eu acho, porque assim, se a gente não encontra a luta, se a gente não encontra dificuldades, se a gente não encontra enfrentamento, se a gente não encontra esses machistas no mundo, parece que tudo é fácil, sabe? Porque, ó, se eu não encontrasse… Eu tenho um irmão que é muito escroto. Eu digo para ele que se ele não fosse meu irmão, ele não era nem meu amigo. Porque ele é muito machista. E ele é muito escroto mesmo. Ele é um cara, assim… Então, se eu todo dia, constantemente, não tivesse que traçar discussões com ele para tentar mudar o pensamento, e eu não tivesse que ir em busca de um conhecimento para eu ter uma consciência diferente, eu acho que… Eu seria muito bobinha. Tipo assim, eu sempre fui caladinha. E se eu não tomo um posicionamento na minha vida, hoje eu seria uma pessoa muito reprimida. Eu não estaria aqui, eu não teria oportunidade de conversar com a juventude, eu não teria oportunidade de discutir com os jovens da minha comunidade, falando com eles sobre sexualidade, tentando mudar a visão deles sobre o gênero.

PACS: Você sente prazer em todas essas articulações que você constrói?

Dayane: Muito. Quando eu tenho uma oportunidade de conversar com pessoas na comunidade que, assim, jovens, crianças… Pode ser até mais velho, que às vezes sentam… E eles me escutam, e eu percebo que, de alguma forma, alguma coisa mudou, eu me sinto realizada.

PACS: E sobre a arte, onde você acha que a arte está em você?

Dayane: A minha vida é arte, né? Eu acho que o conhecimento que a gente tem sobre os nossos ancestrais é arte. O saber que a gente tem, de trabalhar com as plantas medicinais é uma forma de arte. Se eu serro um bambu pra fazer um vasinho, também é arte. É um conhecimento, que eu digo conhecimento tradicional, mas ele é arte. A forma que eu me visto, o turbante que eu uso, a maquiagem que eu coloco, os acessórios que eu uso. O momento que eu me monto, que eu me produzo. Então, para mim, a arte é eu mostrar o quanto que eu sou bonita, o quanto que eu sei fazer. Que o que eu sei fazer é bonito. Eu me sinto uma obra de arte.

PACS: O que é o cuidado para você e como você se cuida?

Dayane: Eu tenho a necessidade de ser sincera… Eu não me cuido tanto. Eu acho que é um problema, e também é uma qualidade… A gente carrega muitas coisas que a gente não comenta. A gente não comenta, às vezes, nem com os amigos. A gente guarda. E como que a gente fala quem é a gente, né?

Ó, quando as minhas amigas estão doentes, quem faz o remédio para elas sou eu. Quem faz o mingau, quem leva na cama, quem faz o chá, quem faz o banho, o xarope… Elas me chamam de mãe Day, né? Eu aprendo, e eu faço para elas. As minhas irmãs estão com dor nas pernas, estão cansadas, sou eu que vou fazer a massagem nas pernas delas… Eu vou colocar de molho na água morna… Então, assim, eu sempre tenho esse cuidado de estar cuidando do outro. Eu não tenho muito essa coisa de cuidar de mim. Eu admito, eu não tenho mesmo. Às vezes, eu me sinto mal, assim, e eu esqueço, eu não tomo remédio… mas, quando eu vejo que alguém que eu gosto está doente, eu me desespero.

PACS: O que te adoece?

Dayane: Às vezes, as pessoas falam as coisas para mim, e por incrível que pareça, eu não esqueço. Eu guardo, eu digo que está tudo na caixinha do rancor do meu coração e eu guardo. Isso me adoece.

Hoje eu tenho 27 anos, e há 3 anos, logo quando eu entrei na faculdade, eu já estava nesse processo de estar ou não estar na igreja. Estava nesse processo de: vou sair. Na verdade, eu já nem ia mais, né? E aí, o que foi que aconteceu… Antes de eu falar com o pastor e tomar uma decisão, porque quando eu saí da igreja, eu cheguei no pastor e disse: “Eu não vou mais participar.” Eu tinha que falar a verdade para a pessoa. Aí, eu estava em casa e tive uma sensação muito forte de que eu iria morrer. Eu não sabia o que fazer, e eu sabia que eu iria morrer, eu estava com aquela sensação assim, e meu coração, sabe? Ficou miudinho, começou a me dar falta de ar… Aí eu comecei a pensar: “Cara, eu estou muito nova para morrer, eu ainda não vivi nada.” Porque eu cresci na igreja. Apesar de eu sair muito, mas eu ainda… Eu não tive oportunidade de viver, o que eu estou vivendo hoje, sabe? Pra mim, aprender tudo que eu tenho aprendido. Conversar com as pessoas, conhecer outras culturas… E aí, eu estava com essa sensação tão forte que eu iria morrer, e eu tinha um caderno que eu comecei a escrever e chorar. Ficou todo molhado o papel, de tanto choro. Eu soluçava de tanto chorar, e até me emociono assim quando eu falo, e fui escrevendo… Escrevi para as minhas amigas, escrevi para o meu pai, falando umas verdades, escrevi para mamãe, escrevi pros meus irmãos… Eu fui deixando conselho para algumas pessoas, tipo, mensagem que eu achava que… assim, “eu quero que você faça isso e isso por mim, eu quero isso”… E eu escrevi, eu acho que eu quase acabei com o caderno de tanto escrever… E eu fui escrevendo, e aí eu dormi. Quando chegou no outro dia de amanhã, por incrível que pareça, eu acordei e eu não tinha morrido. Mas, eu me senti muito melhor. E aí, eu saí, eu conversei com o pastor, disse que eu não ia mais ficar na igreja e tudo… Tomei uma decisão e, assim, eu acho que a Dayane do passado morreu. Foi um processo e o corpo da gente se renova. Eu acredito nisso. O espírito da gente se renova.

PACS: O que te cura?

Dayane: Ah, eu adoro os meus sobrinhos. Eu brigo quando as minhas irmãs batem neles. Eu sinto que estão me batendo também. Eu cresci em um ambiente que a gente apanhava, sabe? E eu acredito muito que meus pais fizeram isso porque eles não sabiam outra forma de criar, mas hoje a gente tem outras formas.

Quando eu chego de viagem, eles vêm todos correndo para me abraçar. Não tem como, eles me renovam todos os dias, sabe?