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Ancestralidade e saberes tradicionais na luta por terra e território marcam sétima edição da Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos
Foto: Verena Glass

Entre os dias 30 de janeiro e 3 de fevereiro, o Instituto PACS, representado por Aline Lima e Yasmin Bitencourt, participou da VII Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos, no Quilombo Conceição, em Salinas das Margaridas, localizado no recôncavo baiano. O encontro teve como tema “Lutar por Terra, Território e Água; Fortalecer (R)Existência e Defender o Modo de Vida Tradicional e Ancestral”.

Foto: Verena Glass

Na chegada ao território, se tornou conhecida a mobilização contra o assassinato de Josias de Jesus, pescador da região, brutalmente violentado no município de Encarnação, vizinho ao local do evento. Tal acontecimento gerou grande ação no local, tomando a cidade e as estradas com pedidos de justiça por parte de autoridades contra o executor, Leonardo Arouca, empresário recém chegado à região, que foi acusado de violentar previamente a irmã de Josias, fato que desencadeou a discussão e o disparo em praça pública que levou a morte do jovem pescador. A mobilização também se estendeu aos participantes da Jornada, que somaram  também nos diálogos com as instituições e com a família e na manifestação contra o genocídio da população jovem negra.

Foto: Verena Glass

Durante a Jornada foram realizados rituais dos povos tradicionais presentes: Pataxó Hã-Hã-Hãe, Payayá, Guerém, Fulni-ô, Tupinambá de Olivença, Xukurú, Pataxó, Tuxá, Kiriri, Kariri-Xocó e Terena. Além dos povos indígenas, também foi expressiva a presença de comunidades quilombolas, de terreiro, ribeirinhas, marisqueiras, líderes espirituais, trabalhadoras(es) rurais, movimentos sociais, artistas, comunicadoras(es) e educadoras(es) populares em uma grande congregação diversa e poderosa na construção de outras realidades.

A Feira dos Povos esteve a todo vapor com a comercialização de alimentos agroecológicos, artesanatos tradicionais e produtos naturais fitoterápicos produzidos pelas comunidades presentes. Além da venda comercial, também foram realizados momentos de troca de sementes nativas-crioulas na mandala central na plenária. O Terreiro Lúdico, espaço destinado às crianças participantes, contou com atividades durante todos os dias, com oficinas de produção de bonecos, o uso de brinquedos lúdicos e educação agroecológica.

Foto: Verena Glass

Em paralelo, durante todos os dias foram realizados Círculos de Diálogos com o objetivo de promover conversas e troca de saberes entre os presentes sobre a maior variedade de temas possíveis. Entre esses, foram realizados espaços auto-organizados da juventude e das mulheres, contando com a participação do PACS, em que foi compartilhada a experiência de produção do vídeo “Autogestão em Rede: memórias e caminhos do Assentamento Terra Vista”, lançado no final de 2022, além dos materiais produzidos desde a perspectiva de atuação das mulheres e suas práticas agroecológicas. Esse espaço teve como encaminhamento a realização do Encontro Nacional de Mulheres da Teia dos Povos, um movimento importante para o avanço do debate de gênero na rede.

Foto: Verena Glass

No dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, foi realizado um grande cortejo com a participação da diversidade reunida na Jornada. A beleza da presença dos povos indígenas e de terreiro no cortejo simbolizou, mais uma vez, a força do processo coletivo com tamanha representatividade e força nas práticas tradicionais de fé, organização e construção. Nesse mesmo dia foram realizadas conversas de articulação com diversos movimentos, entre eles o MSTB, com o objetivo de planejar atividades conjuntas para 2023. No encerramento foi realizado um Toré do povo Fulni-ô, encerrando o espaço que reuniu delegações da Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, São Paulo, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais.

Foto: Verena Glass

A construção coletiva realizada em espaços como a Jornada Agroecológica da Teia dos Povos é uma grande referência para pautar o trabalho e as lutas no campo e na cidade. Alguns momentos de destaque foram a troca de sementes crioulas, a plenária de mulheres e a manifestação contra o assassinato do jovem pescador como momentos marcantes dos cinco dias de profunda reflexão, conexão e organização para as próximas ações.

Leia a carta completa elaborada durante a 7ª Jornada de Agroecologia da Teia dos Povos.