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No Rio, Instituto Pacs realiza encontro formativo sobre feminismos e resistências a megaprojetos

Promover diálogo, troca, reflexão e fortalecimento das lutas de mulheres de sete estados e quatro regiões brasileiras (com participação de uma liderança chilena) frente aos impactos dos megaprojetos de desenvolvimento país afora. Foi a ideia que originou o “Encontro Formativo Mulheres e Megaprojetos: olhares e resistências entre nós”,  entre  5 e 7 de abril, no Rio.

Juntando mulheres do Pará, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão, a atividade surge de diálogos do Instituto PACS com a Comissão Pastoral da Terra de Marabá, Justiça nos Trilhos e o Movimento Xingu Vivo para Sempre(MXVPS). Estas organizações e movimentos todas têm partilhado desafios e perspectivas em duas frentes: o trabalho com mulheres e a crítica ao modelo hegemônico de desenvolvimento.

É uma experiência muito rica porque você acaba encontrando pessoas e soluções diferentes pro seu território. Conversando com as mulheres, eu pude ter ideias do que fazer no coletivo em que participo e pensar em como podemos colocar em prática novas propostas de ação pra chamar a atenção das pessoas de Santa Cruz, que, por exemplo, apoiam a empresa (Ternium Brasil), com uma abordagem diferente”, afirmou Jamílly do Carmo, do Coletivo Martha Trindade, que tem se oposto aos impactos socioambientais provocados pela Ternium Brasil (TKCSA), no bairro.

Na vivência de três dias – em rodas de conversa, debates e oficinas -, lideranças femininas com diferentes trajetórias puderam pensar juntas em como potencializar suas iniciativas de resistência aos impactos territoriais da mineração, siderurgia, instalação de complexos portuários e obras de infraestrutura , especulação imobiliária e militarização dos territórios e da vida. O objetivo foi justamente encontrar convergências e possibilidades de integração destas muitas – e urgentes – agendas políticas, com suas diferentes escalas de país (locais, regionais, nacionais) e na perspectiva latinoamericana.

Na momento da chegada, as participantes formaram uma mandala a partir de elementos que simbolizavam suas respectivas histórias de vida e experiências de luta, como fotos, cartazes, camisetas e outros objetos. “Isso faz com que a gente se conheça mais, entenda de onde cada uma veio, os conflitos e consiga olhar para aqueles símbolos e entender umas as outras, já que nossas histórias são diversas e surpreendentes”, explica Yasmin Bitencourt, educadora e pesquisadora do PACS.

Em debate, conceitos básicos sobre diferentes vertentes do feminismo e perspectivas a respeito da questão de gênero, principalmente sob olhares antirracistas. O processo formativo abordou a todo tempo o corpo, a dança e o autocuidado como elementos estratégicos para o enfrentamento diário aos megaprojetos. “Esses espaços também são uma forma de fazer política, mas a partir de outras linguagens que não são as linguagens escritas”, afirma Ana Luisa Queiroz, pesquisadora e educadora popular do PACS.

Em um dos dias as participantes se dividiram em grupos e criaram um zine temático usando diferentes linguagens como ilustrações e colagens. “A proposta é de uma metodologia que dê conta de formação conceitual, mas também envolva outras percepções. O zine surge da ideia de a gente ter um material que fosse criado por nós, pra ser replicado em cada território como resultado do que foi discutido no encontro. Foi um momento lúdico e ao mesmo tempo formativo, contou Ana Luisa

Fafi Vega, do Observatório Latinoamericano de Conflitos Ambientais (Olca), contou um pouco sobre a experiência do encontro em um relato na Rede Latinoamericana De Mulheres Defensoras, apontando as diferentes práticas de solidariedade e alternativas sustentadas por mulheres. “Esse é o lugar onde decidimos cultura, para traçar a história, mapear a memória que nos liga aos nossos territórios, para cantar nossas histórias, que nos constituem como filhas de constante movimento e do próprio futuro”, diz um trecho do texto.