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Livro conta experiências no Butão, Laos e Vietnã, que colocaram o desenvolvimento a favor do bem viver dos povos

“Vivendo o Futuro no Presente”, do economista Marcos Arruda traz histórias reais de comunidades do outro lado do mundo que integraram tradição, lutas por direitos e preservação da Natureza

A criação do Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) do Butão inspira definições de riqueza em que os bens materiais estejam a serviço dos imateriais, da Natureza – e não o contrário. Há quase uma década, o Instituto PACS tem acompanhado a evolução do índice, que é uma iniciativa do governo butanês para interpretar o PIB apenas como pequena parte do conjunto de indicadores de bem viver.

“O FIB pode contribuir para uma mudança de paradigma de desenvolvimento, na qual a economia esteja subordinada ao humano”, afirma o economista e presidente do PACS Marcos Arruda, autor do livro. A definição de riqueza adotada pelo Butão toma a felicidade das pessoas como referencial para o planejamento participativo do desenvolvimento de comunidades, empreendimentos, instituições e territórios.

O Índice FIB é tema de um dos capítulos do livro Vivendo o Futuro no Presente, no qual Arruda compartilha aprendizados de uma viagem feita em 2015, a três países do Oriente – Butão, Laos e Vietnã – onde, no contato com histórias e realidades profundamente diversas entre si, fez descobertas que dão força – e de certa forma ilustram – noções de desenvolvimento centradas na promoção da vida. No caso butanês, tudo começa por estabelecer indicadores que, por si sós, questionam a forma como se mede a satisfação de necessidades das populações no resto do mundo.

Já na aldeia de Long Lan, no Laos, o autor relata o sucesso, apesar de dificuldades, de um modelo de desenvolvimento comunitário baseado na integração homem/Natureza e regido por leis tradicionais que, na prática, operam com princípios de autogestão. No Vietnã, em meio à presença da memória coletiva da guerra, Arruda visitou HEPA (sigla em inglês para Área de Prática de Ecologia Humana), um núcleo territorial de educação ecológica que inclui 12 diferentes grupos étnicos locais e forma moradores com base nas demandas das aldeias, propondo assim um desenvolvimento debaixo para cima.

Todas as histórias oferecem elementos para reflexão sobre o princípio da subsidiaridade, que, segundo Arruda, postula que os níveis regionais e nacional de governo não devem assumir nada do que possa ser gerido e resolvido pelas próprias comunidades locais. Desta forma, os bens locais passam a ser geridos comunitariamente e o Estado, quando é o caso, atua para compartilhar os bens comuns de forma proporcional e equitativa. Vivendo o Futuro no Presente mostra ainda como povos nativos do outro lado do mundo podem ensinar a integrar a luta por direitos humanos com a luta pelos direitos da Mãe-Terra, dando vida a ideias de “outros modelos de desenvolvimento”.