Instituto Pacs realiza lançamentos presenciais de publicação sobre narrativas feministas em resistência aos megaprojetos
O Instituto Pacs realizou lançamentos presenciais com distribuição de exemplares da publicação “Teias de Luta: Narrativas feministas em resistência aos megaprojetos”, disponibilizada virtualmente em novembro deste ano. Nas últimas semanas, foram feitos dois encontros, com todos os protocolos de saúde e prevenção ao Covid-19, reunindo mulheres no Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM), no Complexo da Penha, e no Bosque das Caboclas, em Campo Grande, ambos no Rio de Janeiro. A publicação “Teias de Luta” busca visibilizar as lutas das mulheres, os impactos vividos em seus corpos, mas também os tantos saberes e sentimentos encarnados. São mulheres que se entrelaçaram, viraram corpo coletivo e fizeram poesia.
Para Marina Praça, educadora popular e uma das organizadoras e autoras da publicação, o Teias de Luta é muito mais que um livro: “É uma confluência de vida, poesia, luta, são mais de dez mulheres escrevendo sobre si e suas histórias, sobre suas formas de resistir, sobre seus corpos e prazeres, sobre os impactos que sentem em seus corpos e territórios. É falar sobre cuidado, ancestralidade, memória, arte, autogestão, além da dor da falta de humanidade existente na lógica patriarcal racista colonial gananciosa nesse sistema e como as mulheres sentem isso, principalmente as mulheres impactadas pelos megaprojetos, que são esses monstros empreendimentos como mineradoras, hidrelétricas, siderúrgicas, complexos industriais, especulação imobiliária, militarização, privatização da água, da terra e do ar, o capitalismo verde.”
No CEM, localizado no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a atividade aconteceu no dia 8 de dezembro e contou com a presença de mais de 10 mulheres e crianças moradoras da Serra da Misericórdia. No encontro, além da rodada de apresentação e da caminhada pela Serra, as mulheres também plantaram juntas nos quintais do Centro de Integração. Para Ana Santos, integrante do CEM, atividades entre mulheres, como o lançamento do Teias, são fundamentais: “Foi um sentimento muito coletivo para nós mulheres, porque a gente sempre se reúne para trabalhar, a gente se reúne para trabalhar no viveiro, pra fazer tintura, sabão, cozinhar, é assim, estamos reunidas e entendo também que essas são as nossas trincheiras. Um espaço de luta, de resistência, é a forma que a gente consegue chegar, pelo trabalho. Às vezes, as mulheres saem de casa só para participar de uma reunião, então essas estratégias de trabalho unem a gente e trazem outras responsabilidades”, explicou.
Sobre a escrita do Teias, Ana destacou como o seu texto “Ser e me reconhecer entre mulheres” é um retrato do cotidiano. “Acho que aquele texto que eu escrevi reproduz muito o nosso dia, o ser e me reconhecer entre mulheres, e foi possível com a gente, nesse intercâmbio, com essa troca, a partir da nossa autogestão, do nosso envolvimento e interação local.”
Para Ana Luisa Queiroz, coordenadora de projetos do Pacs e também autora do livro, realizar o lançamento presencial da publicação na Serra da Misericórdia foi um privilégio: “Pra gente, é um privilégio ter contribuições da Ana dentro do texto, ela é uma grande pensadora, uma grande intelectual referência para a gente, uma intelectual da terra, agroecológica, ela é um exemplo da práxis, então é muito especial poder fazer esse lançamento ao lado dela e junto dessa rede de mulheres que ela tem construído e fortalecido ali na Serra.”
Já no dia 18, o lançamento foi realizado no Bosque das Caboclas, comunidade localizada na Estrada das Caboclas, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que se desenvolveu a partir de uma ocupação urbana. Mais de 25 pessoas estiveram presentes, entre mulheres e crianças, reunidas para falar sobre escrita, luta, resistência, arte e também sobre sonhos. O encontro foi iniciado com um café da manhã seguido de uma roda de apresentação, em que as mulheres puderam compartilhar onde a arte está presente em cada uma delas. “Eu sou a arte”, “minha arte está em cozinhar” e “o cantar é a minha arte” foram algumas das falas compartilhadas entre as companheiras durante esse momento de troca, escuta e afeto.
Alguns trechos da publicação foram lidos ao longo da atividade e a importância da escrita e da leitura também foram pontos trazidos para a roda. Saney Souza, integrante da coletiva As Caboclas e autora do texto “A ancestralidade como forma de resistência” reforçou o quanto escrever foi e continua sendo importante para ela: “Escrevam. Não percam o hábito de escrever. Essa memória nossa é muito importante, de quem a gente é, de onde a gente vem. A escrita é um lugar maravilhoso de estar.”
Saney destacou ainda a importância de momentos de troca e respiro para as mulheres das Caboclas: “É muito bom que, de alguma forma, a gente consiga trazer essa serenidade pras nossas rotinas, porque a escolha por momentos de tranquilidade também é um privilégio. A nossa vida é essa. Aqui nas Caboclas temos um recorte que é muito importante, de mulheres em sua maioria pretas, moradoras de uma área periférica, com uma rotina de sobrecarga de trabalho muito grande”, explicou.
Para Karoline Kina, comunicadora do Pacs, a atividade nas Caboclas foi um momento muito especial: “Conhecer de perto o trabalho tão importante realizado pela Saney no Bosque das Caboclas e tantas mulheres de luta foi muito especial. Como o próprio nome da publicação diz, o Teias é sobre isso, sobre o entrelaçamento de histórias, experiências, lutas e conquistas. É a representação do acolhimento, do cuidado entre mulheres, mas também das tantas dores e desafios do nosso cotidiano. De certa forma, acho que o livro consegue trazer as histórias de todas nós.”
O lançamento do Teias de Luta se encerrou nas Caboclas com um almoço muito especial, muita música e carimbó, a partir da apresentação das crianças integrantes.
A publicação “Teias de Luta” é bilíngue e está disponível para download na Biblioteca Berta Cáceres e no site da campanha Mulheres Territórios de Luta.