Práticas tradicionais e ancestrais marcam o I Encontro de Mulheres Negras, Indígenas e Quilombolas da Agroecologia
As fotos e informações da reportagem pertencem à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e ANA Amazônia.
O I Encontro de Mulheres Negras, Indígenas e Quilombolas da Agroecologia aconteceu nos dias 8, 9 e 10 de junho, na região metropolitana de São Luís do Maranhão, terra dos Encantos. Esse encontro é uma realização do GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) junto com o Instituto Pacs, a Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, a Associação Tijupá , a Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (ACESA) e várias organizações, grupos e movimentos de todo o país. A atividade contou com o apoio de Pão para o Mundo, Misereor, CS Fund, Fundação Ford, Fondo de Mujeres del Sur, ActionAid Brasil , Cese Direitos e Fase.
A ideia da atividade surgiu como uma demanda das mulheres negras, indígenas e quilombolas, que apresentaram a urgência de integrar à abordagem agroecológica as dimensões racial e étnica e a luta antirracista. “Esse encontro é um grande marco na história da ANA, ter um espaço que concentre tanta diversidade, uma pluralidade de mulheres negras, indígenas, quilombolas num mesmo espaço é abrir espaço para vozes que por muitas vezes foram caladas inclusive nos nossos meios. Esse encontro é revolucionário e se coloca como um divisor de águas”, afirma Aline Lima, coordenadora geral do Instituto Pacs.
O encontro contou com uma diversidade de metodologias, começando com a mística de abertura com mulheres indígenas de diferentes etnias e também com Maria do Carmo Omóde Omolú Yemanjá e Oxalá, mais conhecida como Mãe Du. Além disso, as participantes do evento se dividiram em grupos para debater os seguintes temas: Práticas Tradicionais de Agricultura, Sementes e Sociobiodiversidade; Comida, Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional e Cultura Alimentar; Violências; Saúde, plantas medicinais e práticas de cuidado; Produção, reprodução da vida e práticas de cuidado; Cultura, Espiritualidade e Ancestralidade; Território, Demarcação e Conflitos. A dinâmica permitiu que as mulheres conhecessem os desafios e avanços vivenciados pelas companheiras, a partir também do compartilhamento de experiências sobre os diferentes territórios.
No segundo dia do Encontro de Mulheres Negras, Indígenas e Quilombolas da Agroecologia, as mulheres foram divididas em grupos para participar de vivências nas comunidades Quilombolas de Igaraú e Santa Rosa dos Pretos. Na vivência no Quilombo de Igaraú, as participantes caminharam em uma trilha ecológica onde puderam trocar experiências sobre saberes tradicionais ligados a natureza. “É muito prazeroso receber tantas mulheres de tantas capitais do país, hoje aprendi muito e espero ter compartilhado conhecimento também”, comenta Maria de Jesus, conhecida como Dona “Roxinha” presidente da associação de moradores de Igaraú.
Após a trilha todas participaram de uma roda de conversa onde conheceram a história da comunidade e compartilharam um almoço com os moradores locais.”O momento foi muito enriquecedor, apesar de ser maranhense, conhecer a história da comunidade foi muito importante conhecer o processo de luta. Foi um momento de aprendizado para passarmos pras próximas gerações.”, conta Izabel Santos Lisboa do quilombo Oiteiro dos Nogueiras. Esse também é o ponto de vista de Luiza Cavalcante, do Sítio Ágatha, em Pernambuco: “A importância desse encontro é a afirmação de que a agroecologia precisa enfrentar o racismo estrutural. Essa afirmação é feita pelos diversos segmentos de mulheres negras, indígenas e quilombolas presentes no evento.”
De acordo com Aline, esse é também um marco histórico para o Instituto Pacs. “Para o Pacs, estar inserido em um encontro que conta com mais de 100 mulheres vindas de todas as regiões do país e representando uma gama enorme de etnias indígenas ou vindas de muitos quilombos do Brasil traz para o nosso trabalho uma carga histórica muito importante e é referência na reafirmação de um lugar político e de uma aposta política do nosso trabalho, que é potencializar e amplificar as vozes dessas mulheres que foram caladas ao longo da história”, conta. Ela afirma ainda que as participantes foram representantes de outras que também construíram os encontros preparatórios em cada localidade. “Esse encontro carrega muitas outras mulheres que não puderam estar presentes”, finaliza.