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Nona edição do Encontro Autogestão reúne 40 participantes de movimentos sociais, organizações e redes de lutas por direitos
Foto: Instituto Pacs

Entre os dias 30/11 e 03/12, o Instituto Pacs realizou a 9ª edição do Encontro Autogestão e Bem Viver nos Territórios, reunindo 40 participantes representantes de mais de 30 movimentos sociais populares, organizações e redes de lutas por direitos.

Nesta edição, realizada em formato de imersão, foram 8 estados representados (Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Minas Gerais) por lideranças que pautam temáticas relacionadas a agroecologia, juventudes, cultura e comunicação popular, povos e comunidades tradicionais, justiça socioambiental, gênero, espiritualidades, direito à terra, território e moradia.

A cobertura audiovisual foi feita por Flora Rodrigues, da Rede Tumulto (PE). “A gente fica muito feliz de entender que, a partir do vídeo e das fotos, contamos uma história com esses registros que trazem afeto, fortalecimento e mostram um pouco do que foram esses dias. Particularmente, é uma realização, porque isso também é nutrir as nossas memórias e os caminhos de quem vai vir nas próximas edições”, afirma Flora.

Já na chegada, ainda na cidade do Rio de Janeiro, no escritório do PACS os encontros e reencontros foram celebrados em calorosos e alegres abraços e com um delicioso almoço coletivo. Este primeiro momento ficou, assim, reservado às cheganças e deslocamentos, e também aos afetos e ao descanso, em preparação para a programação que nos aguardava.

A abertura das atividades foi feita com uma roda de apresentação e partilha dos participantes sobre as realidades das lutas em seus territórios, em que ficou evidente a importância e urgência de traçar caminhos coletivos em busca de soluções para contextos de vulnerabilização e intimidação.

Em seguida, partilhamos diálogos sobre estratégias de autodefesa territorial. A gravidade das experiências de ameaças direcionadas a grupos e lideranças foi um destaque, e a espiritualidade e o autocuidado estiveram no centro como dimensões fundamentais no enfrentamento ao modelo de desenvolvimento extrativista, racista e patriarcal.

O momento foi puxado por Mãe Luizinha de Nanã (Casa de Nanã e Jardim das Ervas Sagradas – RJ), Mãe Sessiluanvy (Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango – MG) e Luiza Cavalcante (Sítio Ágatha – PE), que trouxeram o uso das ervas, por exemplo, como um elemento importante para nos mantermos energizados, vivos e ativos no enfrentamento às violências.

“Foi um reencontro comigo mesma, porque todas aquelas pessoas estavam com a mesma intenção de tentar fazer desse país e da sociedade algo melhor. Eu me senti honrada de fazer parte desse coletivo. Nós podemos ser muito poderosos se continuarmos unidos”, relatou Mãe Luizinha de Nanã.

No segundo dia, fizemos uma análise de conjuntura coletiva, retomando a temática da justiça socioambiental e mudanças climáticas. A companheira Izabely Carneiro, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) no Pará, compartilhou suas experiências no contexto amazônico; Yane Mendes, da Rede Tumulto (PE), trouxe uma análise nacional a partir dos debates da Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas; e o arte-educador, advogado popular e urbanista Joviano Maia destacou também, além da perspectiva nacional, questões pertinentes aos povos e comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.

As diversas contribuições que surgiram a partir desses motes apresentaram muitos pontos em comum, sobretudo no que diz respeito às expectativas com o fim do governo Bolsonaro e o retorno de Lula à Presidência do país. Apesar do sentimento de alívio, a realidade é de descontentamento e muitas críticas ao governo e à fragilidade das políticas direcionadas à população negra, mulheres e povos tradicionais. Após a análise, identificamos quais são as ações estratégicas já desenvolvidas nos territórios e como podemos nos somar uns aos outros para fortalecer as resistências.

Tivemos, ainda, a exibição da prévia do vídeo-documentário “Territórios de Fé: Resistências aos Fundamentalismos” que está sendo produzido pelo Pacs e traz uma série de entrevistas com lideranças de religiões de matriz africana a respeito da intolerância e do racismo religioso no Brasil e de suas experiências de resistência.

O encontro encerrou com alguns pactos coletivos e apontamentos para 2024. Entre eles, destaca-se o apoio à comunidade da Vila Pinho, em Belo Horizonte (MG), onde a primeira horta comunitária da cidade está ameaçada pela construção de uma ponte.

Ao fim do encontro, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Nêgo Bispo dos Santos, que havia sido bastante citado em nossos diálogos. Seu pensamento se faz presente entre nós desde 2017, trazendo inspiração para imaginar outras realidades e a referência do caminho para construí-las. Começo, meio e começo. Nego Bispo, presente!

Além da dimensão política, a alegria, o afeto e a arte também tiveram espaço na noite cultural e na oficina autogestionada de barro facilitada por Yasmin Bitencourt, assessora político-pedagógica do Instituto Pacs.

O Encontro Autogestão é realizado anualmente pelo Instituto Pacs, com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, DKA Áustria, Pão Para o Mundo e Fundação Ford.