Intercâmbio do Coletivo Autogestão durante o IV Encontro de Mulheres da Teia dos Povos, no Assentamento Terra Vista – BA
Entre os dias 05 e 09 de março de 2024, o Instituto PACS, a Rede Tumulto e Koinonia somaram forças ao IV Encontro de Mulheres da Teia dos Povos – Mulheres em defesa da vida: por Terra e Território. O evento aconteceu no Assentamento Terra Vista, em Arataca, sul da Bahia, onde estiveram nossa coordenadora de projetos Yasmin Bitencourt e a assessora de projetos Mayã Martins, e nossas parceiras Gilmara Santana, da Rede Tumulto, Ana Celsa, colaboradora de Koinonia, e Verena Glass, da Fundação Rosa Luxemburgo.
Foram cinco dias de vivência do cuidado coletivo e de trocas de saberes e experiências sobre práticas de mulheres em defesa dos seus territórios, por autonomia e soberania dos povos. De acordo com a Teia dos Povos, o IV Encontro de Mulheres teve “o intuito de consolidar vínculos de confiança, pertencimentos e apoios mútuos entre as mulheres, ao passo em que deu visibilidade às suas trajetórias, lutas e criações”.
A programação foi conjugada com a celebração dos 32 anos de existência do Assentamento Terra Vista. A conquista da terra ocorreu no dia 8 de março de 1992 em homenagem ao dia internacional de luta das mulheres. Cada aniversário do assentamento é um momento de reafirmar e festejar a luta por Terra, Trabalho e Pão, como afirmou Mestre Joelson durante a comemoração.
O Instituto Pacs contribuiu com a programação facilitando um Círculo de Debate com o tema “Mulheres em resistência aos fundamentalismos”, em parceria com a Rede Tumulto e Koinonia. Neste momento exibimos nosso documentário recém lançado “Territórios de Fé: Resistências aos fundamentalismos”, que traz experiências de enfrentamento aos racismos e à intolerância por meio das histórias de lideranças de religiões afro-brasileiras. O material foi produzido em parceria com Rede Tumulto e Koinonia, que estava representada por Ana Celsa no Círculo de Debate, bem como com o Quilombo Manzo Nzungo Kaiango.
Em depoimento ao Pacs sobre o IV Encontro de Mulheres da Teia dos Povos, Makota Kidoialê, do Quilombo Manzo Nzungo Kaiango, da Serra do Curral, Belo Horizonte, MG, compartilhou: “Estar nesse encontro me faz refletir sobre a importância e a necessidade da preservação ambiental a partir da nossa tradição e do nosso olhar feminino, entendendo que o nosso corpo também é um corpo ancestral, é um corpo natureza. Reafirmamos que esse lugar é um território de preservação ambiental, mas também de manutenção do sagrado, tendo a água, o fogo, a terra e o ar como elementos fundamentais para a nossa sobrevivência”. Makota é irmã de Mãe Sessiluanvy e filha de Mametu Muiande, cujas entrevistas constituem o documentário.
Ana Celsa, articuladora de Koinonia nas ações com comunidades negras tradicionais, também destacou a relevância do encontro em fala ao Pacs: “É um momento de troca de experiência, de construção, de estratégia de enfrentamento, momento de empoderamento das mulheres e da gente se fortalecer”.
Maya Muniz, indígena da etnia Pataxó HãHãHãe, que ocupa o lugar de conselheira de seu povo e também da Teia dos Povos, também compartilhou seu sentimento sobre o Encontro: “É uma honra estar participando desse encontro com essas mulheres de todos os lugares, com quem venho junto fazendo um trabalho de base, um aprendizado pra todas. E digo para todas as mulheres que nós não somos só para o fogão e sim para o mundo também, para enfrentar as lutas, as batalhas”.
A realização de intercâmbios é uma das principais práticas político-pedagógicas do Coletivo Autogestão, no âmbito da construção do Plano Popular Alternativo ao Desenvolvimento. A nossa participação e construção no Encontro da Rede de Mulheres da Teia dos Povos foi um dos encaminhamentos do Encontro Autogestão 2023.
Compreendemos coletivamente que o intercâmbio entre redes, nesse caso a Teia dos Povos e a Rede Tumulto, bem como o avançar coletivo no debate dos impactos dos Fundamentalismos na vida das mulheres e de suas comunidades é um compromisso para o ano de 2024.
O intercâmbio também é uma das ações realizadas no âmbito da Caravana Conta os Fundamentalismos, que se inicia em 2024, dando corpo ao caminhar coletivo que foi nutrido durante o ano de 2023 com a construção do documentário.
A carta final do Encontro ressalta a afirmação da potência das mulheres, percebida e fortalecida na troca de experiências e na construção de uma formação política entre mulheres. E arremata: “Somos capazes de fazer uma luta e vencer. Quem firma o pé na Teia dos Povos é porque entendeu o chamado”.
Leia na íntegra a carta elaborada durante o IV Encontro de Mulheres das Teia dos Povos: https://teiadospovos.org/carta-do-iv-encontro-de-mulheres-da-teia-dos-povos/
Para saber mais, veja os nossos conteúdos:
Depoimento de Mayá, educadora e liderança indígena Pataxó HãHãHãe
Depoimento de Gilmara Santana, da Rede Tumulto
Depoimento de Ana Celsa, de Koinonia
Depoimento de Makota Kidoialê, do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango
Conheça o documentário “Territórios de Fé: resistências aos fundamentalismos”.