Edição histórica celebra 20 anos do curso Mulheres e Economia
Em 2024, o curso Mulheres e Economia completou 20 anos de realização. Para celebrar este marco, o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) promoveu uma edição comemorativa, que contou com a presença das fundadoras do curso e de outras parceiras históricas.
A programação – que aborda a economia política feminista, de forma descomplicada, a partir da educação popular – contou com seis módulos, que ocorreram entre os dias 28 de agosto e 28 de setembro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os cinco primeiros em Campo Grande, no Sindicato dos Professores. No último módulo, foi realizado um intercâmbio em Pedra de Guaratiba, na casa, sede e quintal produtivo da coletiva Mulheres de Pedra.
“O objetivo central é pensar a relação das mulheres com o trabalho, entendendo que tanto o trabalho fora de casa quanto o trabalho dentro de casa está relacionado à economia”, explica a coordenadora de projetos do Instituto Pacs, Yasmin Bitencourt, que coordenou o curso Mulheres e Economia 20 anos.
Cerca de 50 mulheres participaram do curso – incluindo educadoras, educandas e a equipe de produção, papéis que muitas vezes se misturam, já que a metodologia é totalmente participativa. Tudo é feito por e para a coletividade.
“A ideia é que se construa coletivamente os conceitos e sobretudo as práticas. O mundo do trabalho nunca esteve garantido para nós, mulheres. É muito importante entender isso, para transformar essa realidade. A economia é um assunto muito sério para estar na mão só dos economistas”, resume a coordenadora geral do Instituto Pacs, Aline Lima.
A maioria das participantes eram mulheres negras, que vinham de territórios periféricos do Rio de Janeiro, Niterói ou baixada fluminense, incluindo jovens de 18 anos ou menos e senhoras de 70 anos ou mais. De diversas religiões, profissões, orientações sexuais e experiências de vida, ativismo e militância. No módulo de abertura do curso, elas se apresentaram e soltaram a voz, ao cantarem músicas que as representam. A dinâmica rendeu uma playlist cheia de mensagens potentes, que está disponível aqui.
“O curso continua muito ativo e atual”, avaliou Maria Regina de Paulo, que é moradora da Zona Oeste e participou desta e de outras edições. Neste ano, ela também mobilizou as vizinhas e amigas para participar. “Uma das coisas que mais me marcou foi reencontrar amigas de outras edições do curso e ver como nossas vidas mudaram nesses 20 anos”, compartilhou Regina.
Durante o quarto módulo do curso, a educadora Silvia Baptista contou uma história que resume bem a importância da iniciativa.
“Um dia, teve um grande incêndio na mata e os bichos saíram correndo, fugindo, mas o beija-flor corria ao contrário, até que um deles parou o beija-flor e perguntou: por que você está voltando? Então ele respondeu: Estou levando uma gotinha de água, para apagar o incêndio. É isso que nós e cada uma de vocês fazem aqui, é isso que o Pacs faz!”, disse Silvia.
Para quem criou e coordenou a primeira edição do curso, em 2004, foi emocionante vivenciar esse momento histórico.
“Eu estou muito emocionada e feliz, porque esse projeto é como um filho e este filho está vivo e voando. É muito bom quando a gente faz as coisas e elas têm sentido”, compartilhou a economista e presidenta do Instituto Pacs, Sandra Quintela, durante o terceiro módulo do curso. “Quando a gente vê que, 20 anos depois, um monte de mulheres maravilhosas estão aqui, é porque teve sentido ter começado este projeto há 20 anos atrás”, finalizou.
Em todos os módulos, o Espaço Quilombinho proporcionou um espaço educativo e de recreação para acolher as crianças que acompanhavam suas mães ou avós durantes os módulos.
A iniciativa atua com a educação afro-referenciada e busca estabelecer novos significados para o sentimento de pertencimento, trabalhando temas como liberdade e aquilombamento e enxergando a criança como ser criativo e potente.
Nos encontros realizados em Campo Grande, a alimentação – saudável, agroecológica e deliciosa – foi produzida pelas Mulheres em Ação, coletivo vinculado ao Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM).
No encerramento do curso, em Pedra de Guaratiba, foram as Mulheres de Pedra que proporcionaram um banquete com comida que enche os olhos, a barriga e a alma.
Em todos os módulos, a relatora do curso, Leia Kepherah, conduziu práticas corporais afro-referenciadas que trabalham a respiração, presença e autoconsciência.
O curso Mulheres e Economia 20 anos recebeu o apoio das seguintes organizações sem fins lucrativos: Fundação Rosa Luxe burgo, Brot für die welt (Pão para o mundo/PPM), Misereor, Fondo de Mujeres del Sur e Dreikönigsaktion – Hilfswerk der Katholischen Jungschar (DKA).
Homenageadas
Nesta edição comemorativa, o Instituto Pacs homenageou parceiras que marcaram a história do curso Mulheres e Economia. São mulheres potentes, que romperam barreiras e são referências para a atuação do Pacs. Luzes que indicam os melhores caminhos, mesmo em tempos nebulosos.
Yane Mendes, Marina Ribeiro, Ana Santos, Sandra Quintela, Aline Lima e Leila Sales foram as escolhidas para receber essa homenagem, em nome das mais de mil mulheres que já participaram do curso, nos últimos vinte anos.
Por isso elas foram representadas na identidade visual do curso Mulheres e Economia 20 anos, criada pela gravurista Luiza Morgado. Ainda receberam o agradecimento da equipe do Pacs e um kit com flores, uma caneca personalizada, um poster, adesivos e outras lembranças do curso.
Para saber mais sobre as homenageadas, clique aqui.
Módulos do curso
A seguir, confira mais fotos e informações sobre as educadoras. Clique na foto para visualizá-la em outra aba, com tamanho maior.
- Módulo 1 – Feminismos, Racismos e Economia
Educadoras: Ana Luisa Queiroz e Yasmin Bitencourt
Ana Luisa e Yasmin são educadoras e coordenadoras de projetos do Pacs. Ana Luisa também faz parte da Coletiva de Gestão do Pacs. Ela é cientista social, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestra pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, onde pesquisou sobre gênero, conflitos socioambientais e ação coletiva. Yasmin é internacionalista formada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e mestranda em Relações Internacionais pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde pesquisoa gênero, desenvolvimento e financiamento internacional.
- Módulo 2 – Mulheres e o Mundo do Trabalho
Educadoras: Aline Lima e Marina Ribeiro
Aline Lima é psicóloga, atriz, mãe solo, filha de santo, especialista em elaboração e gerenciamento de projetos sociais, militante feminista e educadora popular. Atualmente, cursa MBA em gestão de projetos PMI e é coordenadora institucional do Pacs. Trabalha principalmente com os temas: gestão de projetos, economia feminista, antirracismo, agroecologia, segurança e soberania alimentar, autogestão e combate aos fundamentalismos religiosos.
Marina é educadora popular, cientista social, pesquisadora e ativista de direitos humanos. Compõe a Teia de Solidariedade Zona Oeste e a Coletiva Popular de Mulheres da Zona Oeste. Trabalhou no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e em Criola – Organização de Mulheres Negras. Ainda coordenou o Instituto de Formação Humana e Educação Social/Popular (IFHEP), onde é educadora. Foi assessora parlamentar da deputada estadual Dani Monteira e compôs o mandato antirracista da vereadora Monica Cunha, onde coordenou a primeira Comissão Permanente de Combate ao Racismo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
- Módulo 3 – Economia, Capitalismo e Desenvolvimento
Educadora: Sandra Quintela
Sandra é economista, feminista e educadora popular. Militante de muitas causas e apaixonada pela capacidade que temos e que podemos ter – ainda mais a de mudar o atual estado do mundo! É pós-graduada em políticas de desenvolvimento pela Universidade de Bremen (Alemanha) e mestre em engenharia de produção pela UFRJ. Atualmente, é presidenta do Pacs.
- Módulo 4 – Terra para viver
Educadora: Silvia Baptista
Silvia é pedagoga e comunicadora popular. É mestra em ciências pelo Instituto de Informação Científica e Comunicação Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e atualmente cursa o doutorado no Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional da UFRJ. Ainda compõe a Coletiva Popular de Mulheres e a Teia de Solidariedade da Zona Oeste. Para saber mais, confira aqui a entrevista que ela concedeu para a campanha “Mulheres Territórios de Luta”.
- Módulo 5 – Comunicação como ferramenta de luta
Educadora: Flora Rodrigues
Flora é estudante de Jornalismo, comunicadora popular, ciberativista e empreendedora digital. Ela desenvolve conteúdo para o Instagram, compartilhando suas vivências no enfrentamento ao racismo. Ela também é poetisa marginal e escreveu do livro “Bibizine”. Também foi curadora do Festival LivMundi – Festival de Vida Sustentável. Atualmente, coordena a Rede Tumulto, articula a Coalizão de Mídias Independentes e compõe a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
- Módulo 6 – Eu e meu corpo: Luta, existência e saúde da mulher
Educadora: Ana Laíde
Ana Laíde é licenciada e bacharela em Etnodesenvolvimento pela Universidade Federal do Pará (UFPA), tendo feito parte da turma flexibilizada no Campus de Soure, na Ilha do Marajó. É educadora Social pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre (MXV) e tem experiência com educação popular,movimentos sociais e defesa do meio ambiente. Atualmente é mestranda na Universidade de Brasília (UnB), pelo Programa de Pós-Graduação e Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais.