Atingidas e atingidos pela mineração realizam encontro regional em São Luís (MA)
03 de agosto de 2023
Nos dias 21, 22 e 23 de julho, participamos do XII Encontro Regional das Atingidas e Atingidos pela Mineração (ERAM) em São Luís (MA). O encontro reuniu comunidades e organizações para discutir sobre os impactos do modelo mineral e do agronegócio sobre os territórios e os corpos atravessados por essa cadeia de produção do Pará ao Maranhão, ao longo do corredor Carajás.
A décima segunda edição do encontro aconteceu após um hiato de três anos, devido à pandemia de Covid-19, e contou com momentos de rearticulação das lutas, partilha de estudos, debates, cantorias e poesias. Mais de 50 pessoas estiveram presentes, construindo coletivamente estratégias para fortalecer as resistências das comunidades.
A convite da Justiça nos Trilhos, o Instituto Pacs, representado pela Coordenadora de Projetos Ana Luisa Queiroz, colaborou com a construção do GT Mulheres, Corpo e Território, em parceria com outras organizações como a Comissão Pastoral da Terra de Marabá, a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).
O GT fez um trabalho de mapeamento dos impactos da cadeia da mineração no corpo das mulheres, identificando como as violações de direitos são vivenciadas nessa dimensão, ao passo que também buscou reconhecer as fortalezas dessas mulheres, em suas resistências e lutas cotidianas.
“Ficou muito marcado o quanto o trabalho reprodutivo segue sendo de extrema sobrecarga para as mulheres, e nele nós vemos o encontro de um machismo que, muitas vezes, já está presente nas comunidades com o machismo que também é fortalecido pela indústria extrativa, pelo capitalismo. Mas também ficou marcado que, na hora de identificar as fortalezas nos nossos corpos, as outras mulheres aparecem como companheiras, como um apoio na possibilidade de construir vida”, destaca Ana Luisa.
Estiveram conosco Regina de Paulo e Jamílly do Carmo, moradoras do bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, um território atingido pela maior siderúrgica do país, a Ternium Brasil. A participação delas no encontro marcou o resgate de um laço histórico de Santa Cruz com as comunidades de Piquiá de Baixo, em Açailândia (MA), e o fortalecimento dos processos de intercâmbios estratégicos entre diferentes territórios ligados pelos impactos da cadeia da mineração e da siderurgia.
Jamílly, que é mestranda em Ciências Sociais e integra o Coletivo Martha Trindade, teve a oportunidade de coordenar o GT de Vigilância Popular em Saúde, compartilhando a experiência de medição da qualidade do ar feita pelo Coletivo em Santa Cruz. “Fiquei muito animada com as possibilidades que o evento gerou de fazer essa formação com outras pessoas, de poder ajudar as pessoas a se informar sobre como é o processo de vigilância, o que podemos fazer para contribuir nas nossas comunidades. Poder ajudar as pessoas a lutar por direitos, por condições de vida minimamente razoáveis, por dignidade é uma coisa que me faz brilhar os olhos”, comenta.
Regina também compartilhou da sua alegria em participar do encontro. “Para mim foi muito emocionante conhecer as histórias deles, os problemas que estão passando, dar uma força para eles como eles deram para a gente continuar aqui na luta contra a siderúrgica. Foi uma união de ideias de como enfrentar esses problemas tão sérios”, relata.
Os estados do Pará e Maranhão estão entre os mais impactados pelas atividades de extração, transporte e escoamento do minério de ferro das regiões Norte e Nordeste do país. O encontro teve seu auge no dia 22 de julho, marcado como o Dia Mundial Contra a Mineração.
Fotos: Justiça nos Trilhos