Instituto Pacs lança cartilha para promover debate sobre o combate aos racismos religiosos
Neste Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial e Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) faz o lançamento digital da cartilha “Territórios de Fé: Caminhos para diálogos de combate aos Racismos Religiosos” – material que busca fortalecer ações de debate sobre o racismo religioso, em especial as que promovem a exibição do documentário “Territórios de Fé: Resistências aos Fundamentalismos”, trazendo reflexões e metodologias que auxiliam na promoção de diálogo em diversos espaços (escolas, comunidades, organizações, etc). A cartilha está disponível gratuitamente na Biblioteca Berta Cáceres e na biblioteca do Plano Popular Alternativo ao Desenvolvimento (PPAD).
“O objetivo é fornecer elementos para que lideranças, educadores e ativistas engajem cada vez mais pessoas no debate sobre racismo religioso e fundamentalismos no Brasil”, explica a assessora político-pedagógica do Pacs, Thais Matos.

O documentário “Territórios de Fé: resistências aos fundamentalismos” reúne experiências emblemáticas de comunidades da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro, destacando suas lutas em defesa da sua fé e do seu território. Tanto o documentário quanto a cartilha são frutos da Caravana Contra os Racismos Religiosos.
“Com essa cartilha, somamos na luta contra a discriminação racial, reconhecendo na educação um grande potencial de transformação do quadro de agravamento do racismo e de avanço dos fundamentalismos. Defendemos que se ampliem cada vez mais os espaços de reflexão e debate que valorizem a diversidade religiosa, sobretudo as negras e indígenas, para que as comunidades tenham seus direitos garantidos e a sociedade possa aprender mais com seus valiosos saberes”, conclui Thais.
Dia de luta
O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória do episódio brutal que ficou conhecido como massacre de Sharpeville. No dia 21 de março de 1960, em Johanesburgo, na África do Sul, 69 pessoas foram mortas e 186 foram feridas pelo exército, ao protestarem contra o apartheid e a lei do passe, que obrigava as pessoas negras a portar cartões de identificação para regular sua circulação. O protesto, que reuniu mais de 20 mil pessoas, é um marco na luta pelo fim do apartheid e tornou-se também uma data importante para o combate ao racismo em todo o mundo.
O Brasil, como um dos principais laboratórios da colonização, tem sua história profundamente marcada pela discriminação racial. O genocídio dos povos originários, as injustiças socioespaciais enfrentadas pela população negra e a perseguição a minorias étnicas – ciganos, muçulmanos, judeus, entre outros – são algumas expressões do perverso sistema de obstrução do acesso a direitos e a liberdade baseado na raça, cor ou origem.
Nesse contexto, o combate à discriminação racial é uma agenda fundamental, cujos avanços tem sido protagonizados pelo movimento negro. Destaca-se seu papel no reconhecimento do racismo estrutural e na consolidação de políticas públicas de reparação, como as ações afirmativas, que ampliaram significativamente a presença de pessoas não brancas em espaços de produção de conhecimento e tomada de decisão. Com isso, o combate ao racismo tem figurado o debate público e tem sido cada vez mais incorporado por instituições e organizações, se tornando, inclusive uma agenda governamental.
A leitura cada vez mais qualificada das formas pelas quais o racismo opera no Brasil impulsionou o reconhecimento da sua manifestação através da intolerância contra religiões de matriz africana e não cristãs, o que, de forma mais categórica, identificamos como racismo religioso.
“O aumento da violência, principalmente contra as comunidades tradicionais de matriz africana e indígenas, estão relacionadas a contaminação da vida pelo fundamentalismo cristão, que, além de ser a base filosófica e moral da sociedade capitalista, tornou-se diretriz política institucional com o fortalecimento da extrema direita e sua influência sobre o pensamento de grande parte da população”, avalia a assessora Thais Matos.
Dados do Ministério de Direitos Humanos apontam que, no primeiro semestre do ano passado, foram registradas 1.698 denúncias de violações da liberdade de religião ou crença no Brasil. Essas violações partem de grupos sociais e indivíduos, mas também do Estado e de grupos armados. Incluem desde violência psicológica, privação de direitos, declarações preconceituosas até a violência física e patrimonial. “É um cenário alarmante, que nos convoca a denunciar os racismos religiosos e a elaborar estratégias de proteção das comunidades que enfrentam esses problemas”, avalia Thais.
Na cartilha “Territórios de Fé: Caminhos para diálogos de combate aos Racismos Religiosos”, há um formulário no qual você pode compartilhar relatos e denúncias de violações, além de experiências de resistência e de uso da cartilha em exibições do documentário e outras atividades. Você também pode acessá-lo aqui.