Pré-Caravana Contra os Fundamentalismos inaugura intercâmbios com lideranças de resistências aos racismos religiosos

Ao longo do segundo semestre de 2023, nossa equipe imergiu num processo de estudos e vivências a respeito de um tema que tem se tornado cada vez mais caro para o Instituto Pacs: as intolerâncias e os fundamentalismos religiosos como engrenagens do modelo de desenvolvimento econômico capitalista, patriarcal, racista e desigual que temos.

Para isso, empreendemos uma jornada a que chamamos de Pré-Caravana Contra os Fundamentalismos. “Pré” porque se pretende ser o ensaio de um percurso mais longo a se realizar em 2024, e “Caravanas” porque se constitui em nossa passagem por quatro estados: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, onde estivemos em comunidades e terreiros de religiosidades de matriz africana, escutando e aprendendo com lideranças que protagonizam resistências às violências.

O resultado de todo esse processo será inicialmente sistematizado no vídeo-documentário “Territórios de Fé: resistências aos fundamentalismos”. A continuidade do trabalho, em 2024, irá se aprofundar nos processos de intercâmbio, com a ampliação de diálogos e lugares visitados, e o lançamento de novos produtos e sistematizações.

Pernambuco

Em São José da Coroa Grande, litoral sul do estado, visitamos o Ilê Axé Ayabá Omi, também conhecido como Terreiro das Salinas. Lá, conversamos com o Babalorixá Lívio Martins, que compartilhou suas experiências de discriminação e racismo religioso, inclusive no episódio em que o terreiro foi incendiado, no dia 1º de janeiro de 2022. Na ocasião, tivemos a oportunidade de prestigiar a festa Toque de Oxum e Oxalá.

Radicada em Recife, Vera Baroni, advogada sanitarista, fundadora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e Yabassé do Ilê Obá Aganjú Okoloyá, também contou sobre sua trajetória de aproximação com o candomblé a partir de uma experiência pessoal de cura.

A entrevista com ela aconteceu em São Paulo, durante a realização da 5ª Jornada Ecumênica, que recebeu mais de 150 participantes dialogando sob o tema “Eu sou porque nós somos – Ubuntu: Somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Romanos 12:05) – Contra os fundamentalismos e pela justiça de gênero”. No evento, facilitamos uma oficina a respeito dos impactos dos fundamentalismos religiosos na vida das mulheres.

Bahia

Nossa passagem pela Bahia começou pela participação na Feira Agroecológica de Mulheres do Baixo Sul, no município de Camamu, organizada por Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço e pela Articulação de Mulheres Negras do Baixo Sul.

Em Salvador, estivemos no terreiro Axé Abassá de Ogum, fundado pela Yalorixá Gildásia dos Santos, conhecida Mãe Gilda, cuja data de falecimento – 21 de janeiro – foi instituída como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

Lá, entrevistamos a Yalorixá Mãe Jaciara Ribeiro, sua filha, que hoje é responsável pelo terreiro e dá continuidade à história de luta e resistência com a força da ancestralidade e espiritualidade. Também entrevistamos Ana Gualberto, Egbom d'Osun do Ile Asé Ofá Omi Layo e diretora executiva de Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço.

Minas Gerais

Em terras mineiras, conhecemos o Pai Ricardo de Moura, que é Zelador da Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente, fundada há 60 anos por sua família. Além de uma liderança religiosa, ele também protagoniza importantes contribuições para o desenvolvimento local da comunidade Buraco Quente, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde seu terreiro está localizado.

No Kilombo Manzo Ngunzo Kaiango, entrevistamos Mãe Efigênia (Mametu Muiande), Mãe Sessiluanvy e Makota Celinha, que é Coordenadora Geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB).

Recebemos, ainda, o convite para participar da mesa de abertura do Seminário “O cuidado no centro da política”, promovido na Câmara Municipal de Belo Horizonte pela mandata da vereadora Cida Falabella. Em nossa fala, destacamos as críticas ao modelo de desenvolvimento econômico capitalista, racista e patriarcal e seus impactos na vida das mulheres.

Rio de Janeiro

Na cidade-sede do escritório do Instituto Pacs, fomos até Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, para conhecer a Yalorixá Mãe Luizinha de Nanã, do Ilé Àse Ará Òrun Ìyáàgbà Jiyàn – Casa de Nanã. Sua casa e terreiro, que anteriormente ficavam na Vila Autódromo, foram demolidos em 2016 para abrir caminho para o Parque Olímpico.

Também participa do vídeo a coordenadora institucional do Instituto Pacs, Aline Lima, que é filha de santo e mulher de terreiro.