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Roda de Mulheres da Rede Carioca de Agricultura Urbana fortalece agroecologia e protagonismo feminino nos territórios

A Rede Carioca de Agricultura Urbana (RedeCAU) surgiu há mais de 15 anos, com o objetivo de defender e promover a agroecologia no Rio de Janeiro (RJ). Ela reúne famílias agricultoras da cidade, instituições de ensino e pesquisa e organizações da sociedade civil – dentre elas, o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs). Já a Roda de Mulheres da Rede CAU surge em março de 2017, com o objetivo de pautar as demandas específicas das mulheres agricultoras, que têm historicamente seu trabalho de cultivo da terra, das plantas, e de cuidado dos animais, da casa e da família invisibilizado e desvalorizado.

O marco inicial de fundação da Roda de Mulheres aconteceu durante uma reunião geral da RedeCau, quando companheiras históricas da Rede – Saney Souza, Silvia Baptista, Aline Lima, Giovanna Berti e Valdirene Militão –, se reuniram para desenvolver um lugar de reconhecimento, troca e movimento, que promove escuta, acolhimento, formação e incidência política, valorizando o protagonismo feminino nos territórios, a partir da agricultura urbana.

Reunião de fundação da Roda de Mulheres da RedeCAU, em março de 2017.

Em fevereiro deste ano de 2025, avançando na remobilização desse grupo, foi realizado um importante encontro presencial da Roda de Mulheres da RedeCAU, após um período longo, desde a pandemia, sem encontros presenciais dedicados a esta construção.

Neste encontro, que aconteceu na sede do Instituto Pacs, as participantes foram recebidas com um café da manhã especial, cheio de alimentos saudáveis e agroecológicos, preparados pelo Coletivo Mulheres em Ação, do Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM), que também constrói a RedeCAU.

Em roda, as companheiras retomaram a trajetória do grupo, compartilhando fotos e lembranças, em um momento emocionante, que fortaleceu os vínculos e o sentimento de pertencimento e memória entre as mulheres. Em seguida, foram estabelecidas as prioridades do grupo, um planejamento de ações e uma agenda de reuniões, para manter a Roda de Mulheres da RedeCAU mobilizada e atuante.

Reunião da Roda de Mulheres da RedeCAU na sede do Instituto Pacs, em 2025.

Em abril, aconteceu o segundo encontro da Roda de Mulheres da Rede CAU neste ano. Dessa vez, na sede e quintal produtivo da Coletiva Mulheres de Pedra, em Pedra de Guaratiba. A assessora político-pedagógica do Pacs, Thais Matos, lembra que “o dia começou com um café da manhã coletivo, recheado de sabores, histórias e receitas trazidas pelas companheiras” e que, na sequência, houve um “mergulho na sabedoria ancestral de mulheres que transformaram o mundo”, com uma dinâmica proposta por Leila Souza Vidal, liderança das Mulheres de Pedra e uma das grandes referências do movimento negro feminista carioca. A partir do baralho “Mulheres e Seus Poderes de Transformação”, Leila lembrou das histórias e ensinamentos de figuras emblemáticas da luta, como Dandara, Maria da Penha, Elza Soares e Tereza de Benguela.

A programação também incluiu uma oficina de estandartes, conduzida pela artesã Thais Reis, e um momento de partilha, no qual as mulheres dialogaram sobre os próximos passos da RedeCAU e da Roda de Mulheres e sobre atividades importantes para a articulação a nível nacional, que ocorrem no segundo semestre deste ano, como o II Encontro Nacional de Agricultura Urbana, o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) e o Encontro Nacional de Agroecologia (ENA).

Reunião da Roda de Mulheres da RedeCAU na sede e quintal produtivo da Coletiva Mulheres de Pedra, em Pedra de Guaratiba, em 2025.

Neste dia, as mulheres também compartilharam um almoço preparado pelas mãos das Mulheres de Pedra, com seus temperos e técnicas ancestrais, que alimentam o corpo e a alma. “Encerramos o dia de atividades com uma roda cultural no píer. Ao som de tambores e cantos e com uma ciranda no pôr do sol, fortalecemos nossos vínculos, reafirmando o protagonismo das mulheres na agricultura urbana e na construção de territórios de Bem Viver”, relata Thais.

Por que mulheres agricultoras devem se organizar?

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 70% dos alimentos que chegam às casas brasileiras vêm da agricultura familiar. Reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um setor estratégico para a erradicação da fome e da pobreza no mundo, esse modelo produtivo depende fortemente do trabalho das mulheres. A ONU estima que elas representem 43% da força de trabalho agrícola nos países em desenvolvimento. No entanto, elas enfrentam desigualdades no acesso à terra, crédito, assistência técnica e políticas públicas, além do machismo, racismo e outras opressões.

Com novas agendas sendo costuradas e a realização de encontros regulares, a Roda de Mulheres da RedeCAU reafirma a importância de se manter viva, presente e pulsante nos territórios. Porque quando as mulheres agricultoras se organizam, elas cultivam também a força coletiva de transformar o mundo.

O Instituto Pacs integra a RedeCAU desde a sua fundação, assim como a Roda de Mulheres, que contou com a participação da atual coordenadora institucional do Pacs, Aline Lima. Hoje, o Instituto atua como parceiro estratégico da Roda de Mulheres, oferecendo apoio na articulação, formação política e estruturação das atividades, para potencializar esse processo auto-organizativo.

Nessa construção, afirmamos que as mulheres agricultoras são sujeitas políticas de direitos, que, quando organizadas, podem constroem caminhos para a garantia de direitos e a implementação de políticas públicas que transformam a realidade de suas comunidades e territórios. Para a coordenadora de projetos do Instituto Pacs, Yasmin Bitencourt, “as mulheres agricultoras devem continuar se organizando porque estamos muito distantes de destruir o sistema capitalista, racista e patriarcal que sistematicamente invisibiliza e menospreza o trabalho do cuidado produtivo e reprodutivo realizado por elas – e por nós, enquanto classe”. Ela ainda destaca que “as mulheres na roça, nos seus quintais e em espaços coletivos de produção, são guardiãs de práticas, saberes e sementes que têm potencial para transformar nossas relações”.